Vinícius de Moraes (Rio de Janeiro, 1913 – 1980)

Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 19 de outubro de 1913. Poeta do amor e da comunhão, participou de toda a renovação da música brasileira em parceria com os grandes compositores do país. A vida, considerada por ele a “arte do encontro“, tinha o sentimento de mistura e comunhão.
Vinícius de Moraes passou a vida rompendo convenções sociais. Passou da poesia culta para a popular, misturando ritmos brancos com negros, samba com candomblé e o comportamento aristocrático com o boêmio. Derrubou convenções também na área literária, usando o soneto após a revolução modernista de 1922, que cassava a composição dos 14 versos.
Diplomata de carreira, escandalizou a sociedade ao dar entrevistas cantando com um copo na mão. Em parceria com Tom Jobim, sua peça ‘Orfeu do Carnaval’, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, ao ser transformada por Marcel Camus no filme ‘Orfeu Negro’. Mais tarde junto a Tom Jobim e João Gilberto criou a bossa-nova, um dos principais movimentos de renovação musical do Brasil. Entre os sucessos de Vinícius, destacam-se ‘Tarde de Itapoã’, ‘Garota de Ipanema’ e clássicos da MPB, como ‘Marcha da Quarta-Feira de Cinzas’, ‘Samba da Benção’ e outros. Vinícius de Moraes morreu aos 66 anos, em 9 de julho de 1980, no Rio de Janeiro, mas suas obras sobrevivem até hoje.
Qualquer que seja a análise feita da obra de Vinícius de Moraes, não se pode escapar das palavras “mudança”, “evolução”, “transição”. Sua poesia, além de ser a encarnação do movimento e do transitório, elege a busca como motor primordial: do divino, da coisa ordinária, do homem concreto, do homem social, do homem banal, do amante e, sobretudo, da mulher. E na busca da mulher, das infinitas mulheres que se concentram e se desprendem de uma mulher, a afirmação do motivo principal: “mudança”, “evolução”, “transição”.

Poeta viril e terno, transcendental e carnal, caudaloso e contido, ele fez de sua obra o lugar do encontro e da despedida. Talvez, nenhum outro poeta personifique tão bem e ao mesmo tempo o apolíneo e o dionisíaco, tanto na obra quanto na vida: ao lado da sobriedade e da lucidez já bem precoces, surge e cresce o espírito da embriaguez e da entrega total, em nome da reflexão e da vitalidade que reinam em sua poesia.

Direito – Forma-se em Direito, no Rio de Janeiro, em 1933.

Estréia – Em 1933, publica o primeiro livro de poesias: O Caminho para a Distância.

Vinícius e Tom – Em 1956, inicia parceria com Tom Jobim, que faz as músicas para sua peça Orfeu da Conceição.

Música – Em 1958, é lançado o LP Canção do Amor Demais, que inclui a música Chega de Saudade, composta por ele e Tom Jobim, marco do movimento da Bossa Nova.

Segunda geração – Vinícius de Moraes pertence à segunda geração do Modernismo. Soube dosar o sucesso na poesia (tem vários sonetos antológicos), na música (Garota de Ipanema é a música brasileira mais executada no mundo) e na crônica.

Poemas famosos:

1. Soneto de Fidelidade

2. Soneto de Separação

3. Soneto do Amor Total

4. A Rosa de Hiroshima

5. Receita de Mulher

Obras principais:

1. Forma e Exegese (1935)

2. Ariana, a Mulher (1936)

3. Novos Poemas (1938)

4. Livro de Sonetos (1957)

Soneto de Fidelidade

 

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Vinicius de Moraes, “Antologia Poética”, Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.