A narração é formada por uma seqüência de fatos que se passam em determinado tempo e lugar. A narração só existe na medida em que há ação; esta ação é praticada pelos personagens.

Um fato, em geral, acontece por uma determinada causa e desenrola-se envolvendo certas circunstâncias que o caracterizam. É necessário, portanto, mencionar o modo como tudo aconteceu detalhadamente, isto é, de que maneira o fato ocorreu. Um acontecimento pode provocar conseqüências, as quais devem ser observadas.

Exemplo:

Ouvimos passos no corredor; era D. Fortunata. Capitu compôs-se depressa, tão depressa que, quando a mãe apontou à porta, ela abanava a cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo, nenhuma contração de acabamento, um riso espontâneo e claro, que ela explicou por estas palavras alegres:
– Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me penteou; pediu-me para acabar o penteado, e fez isto. Veja que tranças!
– Que tem? acudiu a mãe, transbordando de benevolência. Está muito bem, ninguém dirá que é de pessoa que não sabe pentear.
– O quê, mamãe? Isto? Redargüiu Capitu, desfazendo as tranças. Ora, mamãe!
E com um enfadamento gracioso e voluntário que ás vezes tinha, pegou do pente e alisou os cabelos para renovar o penteado. D. Fortunata chamou-lhe tonta, e disse-lhe que não fizesse caso, não era nada, maluquices da filha. Olhava com ternura para mim e para ela. Depois, parece-me que desconfiou. Vendo-me calado, enfiado, cosido à parede, achou talvez que houvera entre nós algo mais que penteado, e sorriu por dissimulação… 

(Machado de Assis)