A narração é diferente da dissertação. Nesta última, predominam os argumentos. Na primeira, o que mais conta é o conjunto de ações que de desenvolvem com coerência e bom estilo. Na redação narrativa, também é necessário que existam alguns componentes: personagens, narrador, enredo, tempo e cenário.

Uma narração explica um caso, um fato, um acontecimento. Toda a comunicação discursiva em que se narram fatos possuirá elementos que farão com que a história contada seja vista com importância.

E o que é necessário para fazer uma boa narração. Primeiro, entender os clássicos da narrativa. Ser um bom leitor. Em seguida, saber caracterizar os personagens, não levar em consideração apenas as características físicas. Cada personagem deve conter uma carga, uma leveza, um conjunto psicológico. Os humanos, sem exceção, vivem assim.

Da mesma forma que ocorre na dissertação, a narração também precisa de introdução. Nela, serão descritos e oficialmente apresentados os personagens em cada tempo e espaço. No desenvolvimento, o enredo é construído com boa dose de suspense. Esse suspense culminará no ápice que é a conclusão. O ato de conclusão também pode ser bem fechado com um esclarecimento, com a elucidação de todo o suspense mostrado ao longo do desenvolvimento. Uma narração sempre terá tramas, personagens principais, alguns vilões e mocinhos. Os fatos têm um porquê.

A imaginação pode ter muitas asas na criação da história, para que esta chame a atenção, provoque expectativas e vontade de continuar a leitura. Em alguns casos, drama. Noutros, romance. O humor também é bem-vindo. O estilo dependerá de cada um. O bom narrador é original, discute bem o tema, apresenta suas leituras de mundo de modo a informar, ser objetivo e construir conhecimento.

Confira uma narração de um dos mestres da literatura brasileira.

Tragédia brasileira

1Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.
Conheceu Maria Elvira na Lapa — prostituída com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura… Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar urna surra, um tiro, urna facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos…

Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e inteligência , matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontra-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.

Manuel Bandeira