cronica liricaQuando se trata de Literatura ou Jornalismo, o papel da crônica sempre é muito louvado. Isso acontece porque a crônica atinge uma enorme quantidade de pessoas de diferentes classes. Mas, quais são as características desse estilo de texto? A crônica tem um formato de narração curta e geralmente é veiculada em órgãos de imprensa.

Pode ser publicada em um jornal ou mesmo em revistas especializadas. Quem não se lembra das crônicas de Clarice Lispector em importantes jornais do país, sempre com a perspicácia e inteligência natas desta importante escritora?

E qual o objetivo de tornar-se crônica nesses veículos tradicionais? A finalidade da crônica é pré-determinada. Tem um papel de muita utilidade: gerar uma afinidade e boas impressões dos leitores, sempre naquele mesmo espaço da publicação. Seja por dia ou por semana, estabelece-se uma relação entre escritor e leitor.

Como surgiram as crônicas?

No Brasil, crônica. Em Portugal, crónica. Mas qual a origem dessa palavra? Ela vem do latim, no formato de chronica. No período inicial do Cristianismo era muito utilizada para apresentar de forma cronológica os acontecimentos daquele período. Uma forma de registrar os eventos.

A partir do século XIX, com a imprensa cada vez mais desenvolvida, a crônica ganhou seu lugar de destaque nos jornais. A primeira aparição foi em 1799, no Journal des Débats, em Paris. Aqui no Brasil ela passou a ter algumas características específicas.

Características principais

O cronista monta seu texto de forma que ele se adeque às exigências técnicas de formato para jornais e revistas. Com vida curta, trata de assuntos que “morrem” no dia seguinte. Em alguns casos, o fato pode até ser relembrado. O caráter informativo do texto comum e jornalístico também pode ser observado na crônica. Da mesma forma que o repórter, o escritor de crônicas vai analisar fatos diários, falar do cotidiano.

Só que a crônica, por seu caráter literário, vai ter um estilo mais leve, com toques bem peculiares do autor. É como se o cronista fosse o poeta de acontecimentos diários. Curta, escrita em primeira pessoa, aparece quase como um diálogo. É um posicionamento pessoal daquele escritor. A sua visão de mundo está marcada naquele espaço, inclusive com aspectos de sua vida pessoal em alguns escritos. A linguagem é simples, mas autêntica e bela. Existe um ar de mais espontaneidade , o que difere de um artigo por exemplo.

cara_engarrafado_1.jpg.554x318_q85_cropCrônica Lírica

Um dos exemplos de crônica a ser abordado hoje no Colégio Web é a chamada crônica lírica, que apresentará traços poéticos e metafóricos. É uma crônica que vai trazer a emoção do escritor, seus sentimentos vários em um relato curto e direto. Veja o exemplo abaixo:

Apelo

Dalton Trevisan
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia.

Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.