Muito se fala sobre os filósofos desde o surgimento da Filosofia. E onde estão as filósofas? Elas existem em menor número por conta do preconceito histórico, mas acabam sendo pouco conhecidas. Com trabalhos e pesquisas belíssimas, precisam ser reconhecidas pela colaboração ao desenvolvimento do conhecimento. No universo da Psicologia também é comum ouvir falar de forma preponderante de nomes como Freud, Jung e Lacan. E as mulheres que foram pioneiras na Psicanálise?

Sabina SpielreinTão importante quanto reconhecer o papel das mulheres no avanço da ciência, também é importante defender um maior equilíbrio entre os dois gêneros. Afinal de contas, dividir e criar preconceitos no campo dos avanços intelectuais não vai acrescentar nada ao desenvolvimento de soluções para os problemas enfrentados por toda a sociedade.

Nesse sentido, cabe falar de uma mulher pioneira no universo da medicina psiquiátrica: ela se chama Sabina Spielrein.

Os “estudos” de Sabina começaram logo na sua própria adolescência, quando a mesma desenvolveu um problema de saúde que exigiu cuidados psiquiátricos. O transtorno na saúde de Spielrein aconteceu logo após a morte de sua irmã. O fato abalou de sobremaneira a saúde da futura psicanalista. De origem russa, Sabina acabou sendo levada pelos pais, em 1904, para ser tratada em Zurique. O médico que a tratou na Clínica Psiquiátrica de Burghölzli foi o psicanalista Carl Jung, discípulo do pai da psicanálise, Sigmund Freud.

Depois de curada, revolucionou a educação infantil russa

Durante o tratamento com Jung, Sabina terminou por se apaixonar pelo médico. Este, porém, era casado. O envolvimento não foi adiante, mas Sabina conquistou a cura de seus problemas de saúde e surpreendeu a todos quando decidiu cursar Medicina e se dedicar aos estudos da Psicanálise. Depois de formada, contribuiu com o tratamento de alguns pacientes do próprio Freud.

Em 1914, no começo da I Guerra Mundial, Sabina foi morar na Suíça para também desenvolver as suas pesquisas e teses na prática clínica. A médica atuou em Genebra, onde contribuiu com os estudos do Instituto Jean-Jacques Rousseau, tendo se destacado no tratamento de autistas e nas pesquisas sobre aprendizado infantil.

No ano de 1923, Sabina retornou para a Rússia e iniciou um trabalho pioneiro no Instituto Psicanalítico de Moscovo. Foi chefe do Departamento de Psicologia Infantil da Universidade de Moscovo e, com o apoio da colega Vera Schmidt, formou uma espécie de Jardim de Infância também conhecido como Berçário Branco, pois o espaço era mobiliado e decorado com a cor branca.berçário branco

Sabina realizou seu sonho, pois o Berçário Branco defendia um maior amadurecimento infantil, baseado especialmente no pensamento crítico e analítico por parte das crianças. Ela incentivava o desenvolvimento da criança com metodologias que tratavam de possíveis transtornos psicológicos de uma forma lúdica e esclarecedora. Dois filmes tratam um pouco desse universo criado por Sabina e exploram mais detalhes de sua vida: Jornada da Alma e Método Perigoso.

Infelizmente, por conta do autoritarismo do líder russo Stalin, o Berçário Branco foi destruído depois de três anos em funcionamento. Porém, os estudos e os diários com as anotações de Sabina possibilitaram importantes descobertas do conhecimento deixado pela psicanalista.