Como se não bastasse essa complexidade, o verbo tem, no português, uma morfologia (aspecto que diz respeito à estrutura e formação das palavras) muito rica. Tal riqueza é herdada do latim nas formas simples e extremamente desenvolvida nas formas compostas. Para o estudo da morfologia verbal, os antigos tinham imaginado a conjugação das formas simples em quadros engenhosamente organizados, a que chamaram paradigmas. 

No português, como no castelhano e no galego, as quatro conjugações paradigmáticas se reduziram a três: primeira, que tem como vogal de ligação um -a- (am-a-r, cant-a-r); segunda, que tem um -e- (dev-e-r, mo-e-r); e terceira, que tem um -i- (part-i-r, un-i-r). Por esses modelos se orientam todos os outros verbos, chamados regulares. 

Muitos, porém, são os verbos irregulares. Os de irregularidade fraca diferenciam-se dos paradigmas nos tempos presentes ou no particípio (odiar, valer, abrir estão nesse caso, porque fazem odeio, valho, aberto, em lugar de odio, valo, abrido). Os de irregularidade fonética fogem às regras de mutação vocálica (chegar e invejar, por exemplo, seriam regulares se fizessem chégo e invêjo, como rego e desejo). Os 17 verbos de irregularidade forte (dar, ir, ser, pôr, ter, ver, vir, caber, dizer, estar, fazer, haver, poder, aprazer, querer, saber, trazer) não seguem qualquer paradigma e apresentam peculiaridades em quase todos os tempos. 

Ao contrário de todos os outros, apresentam dois radicais. São rizotônicos na primeira e terceira pessoas do pretérito perfeito do indicativo; ir e ser chegam a ter três raízes. Alguns são abundantes ou defectivos de pessoas (presenciar admite presencio ou presenceio na primeira pessoa do singular, enquanto precaver, no presente do indicativo, só se conjuga na primeira e segunda pessoas do plural — precavemos e precaveis –, além de ser totalmente destituído de presente do subjuntivo).