2. Descrição de cenário 

A casa de Botafogo

Prédio talvez um pouco antigo, porém limpo; desde o portão da chácara pressentia-se logo que ali habitava gente fina e de gosto bem educado; atravessando-se o jardim por entre a simetria dos canteiros e limosas estátuas cobertas de verdura e enormes vasos de tinhorões e begônias do Amazonas, e bolhas de vidro de várias cores com pedestal de ferro fosco, e lampiões de três globos que surgiam de pequeninos grupos de palmeiras sem tronco, e banco de madeira rústica, e trombones de faiança azul-nanquim, alcançava-se uma vistosa escadaria de granito, cujo patamar guarneciam duas grandes águias de bronze polido, com as asas em meio descanso, espalmando as nodosas garras sobre colunatas de pedra branca. Na sala de entrada, por entre muitos objetos de arte, notava-se, mesmo de passagem, meia dúzia de telas originais; umas em cavaletes, outras suspensas contra a parede por grossos cordéis de seda frouxa; e, afastando o soberbo reposteiro de repes verde que havia na porta do fundo, penetrava-se imediatamente no principal salão da casa. 

(Aluísio Azevedo)

Esta é uma descrição objetiva de cenário. Podemos observar muito mais do que uma simples enumeração de plantas e adornos, pois o observador faz um inventário de detalhes, entre matérias, contornos e cores, extenso em pormenores: “atravessando-se o jardim por entre a simetria dos canteiros e limosas estátuas (…) e trombones de faiança azul-nanquim”. Dispensa o uso da subjetividade, atravessando os espaços e registrando-os com fidelidade fotográfica. 

Há um pôr-do-sol de primavera e uma velha casa abandonada. Está em ruínas.
A velha casa não mais abriga vidas em seu interior. Tudo é passado. Tudo é lembrança. Hoje, apenas almas juvenis brincam despreocupadas e felizes entre suas paredes trêmulas.
Em seu chão, despido da madeira polida que a cobriam, brotam ervas daninhas. Entre a vegetação que busca minimizar as doces recordações do passado, surge a figura amarela e suave da margarida, flor-mulher. As nuanças de suas cores sorriem e denunciam lembranças de seus ocupantes.
A velha casa está em ruínas. Pássaros saltitam e gorjeiam nas amuradas que a cercam. Seus trinados são melodias no altar do tempo à espera de redentoras orações. Raízes vorazes de grandes árvores infiltraram-se entre as pedras do alicerce e abalam suas estruturas.
Agoniza a velha casa. Agora, somente imagens desfilam, ao longo das noites. As janelas são bocas escancaradas. A casa velha em ruínas clama por vozes e movimentos…
 

(Geraldo M. de Carvalho) 

Esta é uma descrição subjetiva do cenário. O autor enquadra de forma lírica uma casa em ruínas. Apresenta o seu ponto de vista subjetivo e nostálgico em relação ao cenário, concede metáforas e impressões sinestésicas aos espaços que sua sensibilidade percorre: “paredes trêmulas”, “melodias no altar do tempo”, “as janelas são boas escancaradas”.