A virada do século trouxe consigo diversas pautas importantes para a preservação não só da vida humana, mas também do planeta. Ser sustentável virou regra, mudando conceitos de organizações políticas, de empresas e, claro, modificando o cotidiano das civilizações modernas.

Desastres ambientais são comuns e podem liberar produtos químicos na natureza e degradando o meio ambiente e até causar danos irreversíveis ao ecossistema, para que isso não prejudique as próximas gerações foi preciso agir na raiz do problema, ou seja, estudar a atividade química e trabalhar na redução do perigo ou na eliminação de elementos químicos prejudiciais à vida humana e ao meio ambiente.

Este processo é conhecido como Química Verde, uma tendência iniciada nos anos 90 e que ganhou força nos últimos anos graças aos avanços nas pesquisas sobre o tema.

Breve histórico

Verde Quimica

No ano de 1991, a Agência Ambiental Norte – Americana (EPA –Environmental Protection Agency) lançou um projeto que seria o embrião do conceito de química verde. Chamado de “Rotas Sintéticas Alternativas para Prevenção de Poluição”, o programa financiou projetos de pesquisa direcionados para a prevenção da poluição vinda dos processos químicos desde a linha de produção industrial até o isolamento de resíduos tóxicos, nocivos ao meio ambiente. Já no ano de 1995, o governo americano resolveu criar o “ The Presidential Green Chemistry Challenge”, um programa de premiação para inovações tecnológicas que auxiliam no desenvolvimento da química verde, que anualmente escolhe projetos nas categorias, acadêmica, pequenos negócios, rotas sintéticas alternativas ( como o programa da EPA), condições alternativas de reação e desenho de produtos químicos mais seguros.

Além da iniciativa americana, há exemplos como o Consórcio Universitário Química para o Meio Ambiente (INCA), criado em 1993 o programa italiano que reúne grupos acadêmicos interessados na relação da química com a preservação do meio ambiente e anualmente promove cursos de verão para os interessados no tema. O ano de 1997 foi o mais importante para a ampliação dos conceitos de química verde e sua consolidação como regra para o desenvolvimento sustentável, neste ano é criado o Green Chemistry Institute (GCI), um instituto totalmente direcionado para a expansão da química verde, atuando ao lado da Sociedade Americana de Química (ACS, na sigla em inglês), além disso, acontece no mesmo ano a primeira conferência sobre química verde, promovida pela IUPAC (International Union for Purê and Applied Chemistry), em Veneza, na Itália.

A partir deste momento, até os dias de hoje, diversos artigos e trabalhos sobre química verde são desenvolvidos por todo o mundo, a Universidade de São Paulo (USP), por exemplo, conta com seu curso de verão direcionado para o tema, integrando o Brasil ao desenvolvimento auto sustentável das rotas sintéticas. A Sociedade Real de Química Britânica desenvolve uma publicação bimestral especializada em química verde, reunindo todos os estudos produzidos sobre o tema, vale a pena conferir.

Conceito

O que é Química Verde

De acordo com a IUPAC a química verde pode ser definida como “a invenção, desenvolvimento e aplicação de produtos e processos químicos para reduzir ou eliminar o uso e a geração de substâncias perigosas”. Para que seja considerada um conceito, as entidades responsáveis pelo estudo do tema criaram 12 princípios que auxiliam no processo químico sustentável, são eles:

  • Prevenção – Evitar que o resíduo seja produzido é mais viável do que ter que limpá-lo depois.
  • Economia de átomos – Desenhos de metodologias sintéticas que aumentem a incorporação de toda a matéria-prima, passando pela linha de produção até o produto final.
  • Síntese de produtos menos perigosos – O uso da síntese auxilia na geração de substâncias que possuem pouca ou nenhuma toxicidade ao meio ambiente e á saúde humana.
  • Desenho de produtos seguros – O produto químico é desenhado no intuito de realizar a função certa e não ser tóxico ao mesmo tempo.
  • Solventes e auxiliares mais seguros – Substâncias auxiliares devem ser desnecessárias se possível e se usadas devem ser inofensivas no que diz respeito à toxicidade.
  • Busca pela eficiência de energia – A energia deve ser sempre minimizada, se possível renovável, para não causar impactos ambientais e econômicos.
  • Uso de fontes renováveis de matéria-prima – Devem ser sempre escolhidas matérias-primas renováveis.
  • Evitar a formação de derivados – Etapas que geram derivados, como o uso de agentes que interferem na produção do produto, devem ser evitadas, pois este processo requer reagentes adicionais que causam resíduos tóxicos.
  • Catálise – Reagentes catalíticos (que dissolvem durante a reação química) são melhores do que reagentes estequiométricos.
  • Desenho para a degradação – Os produtos químicos devem ser desenhados no intuito de que se dissolvam de forma nociva e não permaneçam no ambiente.
  • Análise em tempo real para a prevenção da poluição – Com o avanço tecnológico análises estatísticas e de monitoramento, em tempo real, são essenciais para o controle dos processos químicos e a formação de substâncias nocivas.
  • Química intrinsecamente segura para a prevenção de acidentes – As substâncias e as formas como elas são usadas devem ser planejadas, de uma forma que não causem acidentes químicos, assim como incêndios, vazamentos ou explosões.

Utilizar estes princípios na manipulação dos elementos químicos, desde a linha de produção até seu uso final, pode auxiliar no processo de redução de danos da atividade química ao meio ambiente e à saúde humana. Vale ressaltar que o intuito da química verde é chegar há um momento (que talvez esteja próximo de acontecer) em que resíduos tóxicos poderão deixar de ser utilizados graças ao avanço dos processos de manipulação e anulação de elementos nocivos.