O Parnasianismo, no Brasil, acabou sendo deflagrado a partir da publicação da obra “Fanfarras”, de Teófilo Dias, em 1882. Os principais autores desse período foram: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia. Eles buscavam o sentido para a existir humano. Apreciavam a perfeição estética. Portanto, a preocupação era lugar comum na “Arte pela Arte”, ou seja, a forma tinha ganho principal da poesia.
Observem o poema de Alberto de Oliveira.

EMENTÁRIO

I

Austero e frio, entrar no aposento
O médico: – “É preciso o seu cabelo
Cortem.” — Dissera. E eu vi, – nem sei dizê-lo!
Cair-lhe as tranças nesse atroz momento.

Agora mais faminto, mais violento
Crescia o mal. Da morte o escuro selo
Já sobre a fronte lhe notava, e ao vê-lo,
Dor a dor me estalava o pensamento.

O olhar preso no meu, no etéreo fundo
De seu olhar um anjo me acenava,
Como a dizer: – “Já basta deste mundo!”

Com um sorriso no lábio, ela morria…
E o anjo lá estava: em seu olhar, me olhava,
Em sua boca, em seu sorrir, sorria.

II
Ó minha Laura, quem do livro aberto
Em que líamos ambos, os amados
Olhos teus afastou, para fechados
Serem no sono de uma noite, incerto!?

Quem dentre os níveos dedos delicados
Em que o trazias, lendo-o, de mim perto,
O poema arrancou que eu vi coberto
De tantos sóis que tinha, imaginados?!

Doce leitura! negra pausa infinda…
Como que por encanto ainda hoje eu creio
Ver aberto esse livro e lê-lo ainda;

E em cada folha em que meus olhos ponho,
Palpita o nosso amor com o mesmo anseio,
E as nossas ilusões com o mesmo sonho.

III

Disse ao poeta a Saudade: “Ao mundo ascende
Dos sóis, por lá, das asas minhas, vê-la…”
E o poeta subiu de estrela a estrela,
Subiu. Chamou debalde. Alonga, estende

Os olhos… O ar somente avista. Empreende
Maior passo. Mais sobe. Em luz mais bela
Arde o espaço. Mais sobe. E em toda aquela
Altura apenas o silêncio o entende.

Como a infinita serra, – a grito e grito,
Olhando acima e atrás, trepa o infinito…
Estende a mão, procura… estende a mão,

Procura… estende a mão, procura… e luta
Debalde, e fala, mas somente escuta
O rolar das estrelas na amplidão.

IV
Porventura algum dia acaso ouviste,
À noite, a voz das velhas cartas, quando,
Papéis antigos remexendo e olhando,
No recesso dos íntimos buliste?

Eu conheço essa voz, sei que ela existe.
De antigas letras descorado bando
Tenho ouvido falar, se vou pensando,
Vendo-as à luz, apaixonado e triste.

Daqui sai de um irmão que se desvela
O conselho; entre mostras de piedade
Nesta linha há uma lágrima; naquela

De amigo ausente inda a expressão conforta;
Nesta — arrasam-se os olhos de saudade —
Vejo as letras finais da amante morta.

V
Vês com as arcadas negras suspendida
No ar esta ponte imensa, – o céu de um lado,
A terra do outro, e tudo ilimitado?
Seu nome queres tu? chama-lhe — Vida.

Vê como horrenda é toda, e alta e comprida!
Faz medo… — E onde termina? — Onde acabado
É tudo e novamente começado:
No mistério, na treva indefinida…

— E esses vultos que a estão, mudos, subindo?
— Sombras. — E esse atro uivar medonho, e grito?
— Dores. — E acima é o céu que está fulgindo?

— É o céu — E para em salvo atravessar
Esta ponte e ir lá ter, que necessito?
— Amar, amar, eternamente amar.

ARTE PELA ARTE – É a arte pelo simples prazer de fazer arte, sem a influência dos sentimentos, das emoções.

PERFEIÇÃO FORMAL – O poeta busca, a qualquer custo, a perfeição exterior dos poemas. Passam a ter valor os seguintes aspectos:

a) rimas ricas e raras;

b) vocabulário erudito, às vezes técnico- científico;

c) composição de soneto (2 quartetos e 2 tercetos);

d) clareza e lógica;

e) poesia descritiva;

f) ausência de emoção.