Uma das culturas mais fascinantes do mundo é a cultura japonesa. E essa civilização milenar deixou sua marca na história da humanidade, não só nos limites de seu pequeno território, mas também em diversos pontos do mundo, em um processo migratório que teve inicio em fins do século XIX.

No Brasil não foi diferente: os primeiros imigrantes japoneses trazidos pelo imponente navio Kasato Maru desembarcaram por aqui em 1908, trazendo consigo esperança e muita disciplina. Eles buscavam oportunidade de trabalho nas lavouras de café, especialmente na província de São Paulo. Vale lembrar que o Brasil havia abandonado a mão de obra escrava havia apenas 20 anos, e que por este motivo, uma grande leva de imigrantes, especialmente europeus, veio para cá nesse período.

Os japoneses só chegaram em 1908, muito por conta de uma longa e intricada negociação entre os dois países, e também porque o Brasil buscava novas fontes de mão de obra, já que os europeus não estavam mais tão dispostos a enviar trabalhadores para um local onde sabidamente seriam mal tratados, já que as condições de trabalho em muitos lugares ainda lembravam os tempos da escravidão.

Porém, trocar um tipo de imigrante por outro não seria tão fácil: havia forte resistência por parte da comunidade branca cristã brasileira à chegada de imigrantes asiáticos, a quem se referiam como “negros amarelos”. Diversos artigos racistas foram publicados em jornais de boa circulação da época. Neles se defendia os “interesses” da nação brasileira e se atacava a intenção de se abrir os portos e as fazendas brasileiros aos imigrantes asiáticos, especialmente chineses e japoneses.

Por este motivo, e também devido à lentidão nas negociações entre os países, é que somente em 1895 foi assinado um tratado entre as nações, onde se estabeleciam normas de relações diplomáticas e abriam-se de fato as discussões para o envio de imigrantes japoneses ao Brasil. Fato esse, que só se efetivou em 1908.

Panorama Geral da Imigração Japonesa ao Brasil

Para o Japão era interessante enviar imigrantes ao Brasil e para outras partes do mundo para resolver um problema interno já presente naquela época: seu pequeno território não dava conta do crescimento populacional. Para tanto a imigração para outras partes do mundo surgia como opção à pobreza interna.

A primeira onda de imigrantes japoneses foi para a Austrália, onde foram trabalhar na extração de pérolas. Isso ocorreu em 1883 e foi a primeira imigração oficialmente organizada pelo governo japonês. Logo, Canadá, Estados Unidos e Peru surgiram como novas rotas para os imigrantes japoneses. E não demorou muito para que o Brasil, que estava deixando a escravidão para trás, aparecesse no horizonte nipônico.

O primeiro contato entre os povos, que como já dito, ocorreu em 1908, foi marcado pelo preconceito dos brasileiros, que pautavam sua opinião em relação aos imigrantes japoneses em puro misticismo, visto que até então, não havia ocorrido nenhum contato efetivo entre os povos que justificasse tal julgamento.

A verdade é que esse preconceito logo foi se dissipando, graças principalmente à organização, disciplina e seriedade japonesa. Não demoraram muito para novos artigos sobre os japoneses, agora mais amigáveis, serem publicados, elogiando suas já citadas características e expressando a admiração com a higiene observada nos alojamentos do navio que os trouxe para cá. Chegou-se a dizer que a limpeza observada nos alojamentos da 3ª classe do Kasato Maru era maior do que a vista em alojamentos da 1ª classe de navios europeus. Também se elogiou muito a atitude amável dos primeiros imigrantes, que chegaram ao país carregando bandeiras do Japão e do Brasil.

A verdade é que, mesmo que tenha sido financiada pelos governos dos dois países, é fato que os imigrantes foram atraídos por propagandas nem sempre realistas sobre o que encontrariam no Brasil. E isso se deveu ao fato de que muitas empresas particulares estavam envolvidas no processo, tanto na ponta de cá, quanto na ponta de lá. E isso significa que para aumentar os lucros trazendo mais imigrantes, essas empresas mentiam.

Enfim, independente de como se enxergavam os imigrantes japoneses no inicio do contato, a contribuição desse povo para a formação do Brasil no século XX é incontestável. E ela não se resume ao bairro da Liberdade.