Teólogo, filósofo, escritor e mitógrafo, nascido em Tagaste, próximo de Hipona, na então província romana de Numídia, na África romana, hoje Suk Ahras, na Argélia, conhecido como o último dos antigos e o primeiro dos modernos filósofos a refletir sobre o sentido da história e o arquiteto do projeto intelectual da Igreja Católica, o primeiro grande patrístico do período nissênico, com pensamento próprio, e um dos fundadores da Teologia. Filho de pais ricos, o pagão e depois convertido Patrício e da cristã Mônica, mais tarde canonizada, levou na mocidade uma vida circense e em atividades teatrais. Estudou retórica em Cartago (371-374), onde aos 17 anos passou a viver com uma concubina, da qual teve um filho, Adeodato. Interessou-se por filosofia após ler Hortensius, de Cícero e quando também aderiu ao maniqueísmo, caracterizadamente rigorista e proselitista. Retornando a Tagaste, lecionou retórica por um ano. Mais uma vez em Cartago, continuou no mesmo magistério, por 8 anos.

Passou um ano em Roma e três em Milão, onde começou a ensinar retórica em Milão (384), e conheceu Santo Ambrósio, bispo da cidade. Interessou-se pelo cristianismo, voltou-se para o estudo dos filósofos neoplatônicos, renunciou aos prazeres físicos e converteu-se ao cristianismo (387), quando foi batizado por santo Ambrósio, junto com o filho Adeodato. Retirou-se do magistério, dedicando-se mais intensamente à filosofia neoplatônica. Retornou finalmente à África, e decidiu fundar um mosteiro com os bens que então herdara, em Tagasta (387), a origem da ordem agostiniana. Nessa época perdeu a mãe e, pouco depois, o filho.

Ordenado padre em Hipona (391), pequeno porto do Mediterrâneo, atual Bône, na Argélia, tornou-se bispo-coadjutor da diocese (395) e foi nomeado bispo com a morte (397) do bispo diocesano Valério. Por causa de sua atividade como bispo de Hipona, esta cidade se ligou ao seu nome. Tomado pelo ideal da ascese, não tardou para que fundasse uma comunidade ascética nas dependências da catedral, uma ordem com o seu nome e sua influência que atingiu até, pelo menos, o século XVII. Foi testemunha dos acontecimentos decisivos da história universal, como o fim da antiguidade clássica, a invasão de Roma pelos visigodos e a decadência do Império Romano sob o ataque dos bárbaros.

Sob esse clima estudou, ensinou e escreveu suas obras. No final de sua vida suas preocupações se concentraram na teologia, buscando aprimorar os conceitos neoplatônicos, os quais aliás deram sustentação teológica à polêmica doutrina sobre a atribuição da divindade às três pessoas: um Pai, um Filho e um Espírito Santo. Morreu durante o cerco de Hipona pelo rei dos vândalos, Genserico, e é festejado como doutor da igreja, venerado no dia 28 de agosto, tido como data de sua morte. Ainda que atingisse a posição de o mais expressivo teólogo e filósofo cristão do primeiro milênio, o seu pensamento não chegou a explicitar um sistema filosófico perfeitamente acabado.

Sua obra se ressentiu contudo pela falta de preparo em língua grega, a qual lia apenas em traduções. Do neoplatônico Plotino (~204-270), através da tradução latina do patrístico Mário Victorino, encontrou o embasamento para desenvolver a doutrina cristã a um tempo monoteísta e trinitária, mas se libertou das emanações plotinianas, expondo uma conceituação filosófica da Trindade, que multiplicou as pessoas divinas e não a natureza. Sua obra, em si mesma imensa, de extraordinária riqueza, antecipou, além disso, o cartesianismo e a filosofia da existência. Fundou a filosofia da história e dominou todo o pensamento ocidental até o século XIII, quando deu lugar ao tomismo e à influência aristotélica. 

Voltou à cena com os teólogos protestantes Lutero e, sobretudo, Calvino, e hoje é um dos alicerces da teologia dialética. Escreveu cerca de 100 títulos e dentre os autores cristãos da antiguidade romana, foi um dos mais volumosos. Suas obras passaram a ser reeditadas até hoje. Nos 10 anos anteriores ao episcopado (386-396) escreveu: Contra os acadêmicos (Contra academicos), sobre a certeza; Da vida feliz (De beata vita); Da ordem (De ordine), sobre a providência divina e a educação; Solilóquios (Soliloquiorum), sobre Deus e a alma que fala a Deus; Da imortalidade da alma (De immortalitate animae); Da grandeza da alma (De quantitate animae), sobre a capacidade da alma para a virtude a contemplação de Deus; Do mestre (De magistro), sobre a língua e a instrução; Do livre arbítrio (De libero arbitrio), contra o determinismo maniqueísta e Deus como princípio do bem; Da música (De musica), sobre o ritmo e a elevação a Deus; Dos costumes da igreja e sobre os costumes dos maniqueus (De moribus ecclesiae et de moribus manichaeorum); Do Gênesis contra os maniqueus (De Genesi contra manichaeos); Da utilidade de crer (De utilitate credendi); Contra Adimanto, discípulo de Maniqueu (Contra Adimantum, Manichaei discipulum).

Do início do episcopado são também as suas três obras mais importantes: Confissões (Confessiones, 397), autobiografia e espiritualidade, com elementos filosóficos sobre a criação e Deus; Da Trindade (De Trinitate, 400-416, 15 volumes), esclarecimento sobre as pessoas divinas, à luz de elementos neoplatônicos; e Da cidade de Deus (De civitate Dei, 413-426), obra mais tardia e escrita num curso mais longo de tempo (413-426), sendo uma apologia do cristianismo e uma visão do Reino de Deus, em termos de teologia da história; Retratações, 2 vols (Retractationes, 426-427). Como estudioso da natureza classificou os animais em úteis, nocivos e indiferentes.