Luiz Inácio Lula da Silva nasceu em 27 de outubro de 1945 no então distrito de Caetés, município de Garanhuns, interior de Pernambuco. É o sétimo dos oito filhos de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Mello, carinhosamente chamada de “dona Lindu”.

Em dezembro de 1952, dona Lindu, juntamente com os filhos, migrou para o litoral paulista viajando 13 dias num caminhão “pau-de-arara”. Foram morar em Vicente de Carvalho, bairro pobre do Guarujá. Lula foi alfabetizado no Grupo Escolar Marcílio Dias e completou o ensino fundamental. Em 1956, mudaram-se para São Paulo e foram morar em único cômodo, nos fundos de um bar, no bairro do Ipiranga.

Aos 12 anos de idade, Lula conseguiu o primeiro emprego, em uma tinturaria. Depois, foi engraxate e “office-boy”. Com 14 anos, começou a trabalhar nos Armazéns Gerais Columbia, onde teve a carteira de trabalho assinada pela primeira vez. Transferiu-se mais tarde para a Fábrica de Parafusos Marte e conseguiu vaga no curso de torneiro mecânico do Senai – Serviço Nacional da Indústria. Os estudos duraram três anos e Lula tornou-se metalúrgico.

A crise após o golpe militar de 1964 levou Lula a mudar de emprego passando por várias fábricas até ingressar nas Indústrias Villares, uma das principais metalúrgicas do País, localizada em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Trabalhando na Villares, Lula começou a ter contato com o movimento sindical através de seu irmão José Ferreira da Silva, mais conhecido por “Frei Chico”.

Em 1969, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema fez eleição para escolher a nova diretoria e Lula foi eleito suplente. Na eleição seguinte, em 1972, tornou-se primeiro-secretário. Em 1975, foi eleito presidente do sindicato com 92% dos votos e aí já representava 100 mil trabalhadores.

Lula deu novo rumo ao movimento sindical brasileiro. Em 1978, foi reeleito presidente do sindicato (98% dos votos) e, após 10 anos sem greves operárias – em razão do regime opressivo em vigor –, ocorreram no País as primeiras paralisações. Em março de 1979, 170 mil metalúrgicos pararam o ABC paulista. O carismático dirigente liderou então memoráveis assembléias no estádio de vila Euclides, cujos participantes não se intimidaram diante do aparato policial.

A repressão ao movimento grevista e a quase inexistência de políticos que representassem os interesses dos trabalhadores no Congresso Nacional fez com que Lula pensasse pela primeira vez em criar um partido de trabalhadores.

Por essa época, o Brasil já vivia processo de abertura política, comandada pelos militares ainda no poder. Em 10 de fevereiro de 1980, Lula fundou o Partido dos Trabalhadores (PT), juntamente com outros sindicalistas, intelectuais, políticos e representantes de movimentos sociais, como lideranças rurais e religiosas. Nesse mesmo ano, nova greve dos metalúrgicos provocou a intervenção do governo federal no Sindicato de São Bernardo e a prisão de Lula e de outros dirigentes sindicais com base na Lei de Segurança Nacional. Foram 31 dias de prisão, situação agravada pelo falecimento de sua mãe.

Lula liderou a organização do partido, que em 1982 já estava implantado em quase todo o território nacional. Disputou naquele ano o governo paulista e ficou em quarto lugar.

Em agosto de 1983, fez parte do grupo fundador da CUT – Central Única dos Trabalhadores. Em 1984, participou, como uma das principais lideranças, da campanha das “Diretas-Já”, que reivindicava a escolha direta do Presidente da República. Em 1986, foi eleito o deputado federal mais votado do País para a Assembléia Nacional Constituinte, com 650.134 votos.

O PT lançou Lula para disputar a Presidência da República em 1989, após 29 anos sem eleição direta para o cargo. Perdeu a disputa, no segundo turno, por pequena diferença de votos, mas dois anos depois liderou mobilização nacional contra a corrupção, que desembocou no “impeachment” do Presidente Fernando Collor de Mello.

A chance real de vitória em 1989 animou os petistas, e Lula desembarcou na campanha seguinte, em 1994, como favorito até a metade do ano, até o lançamento do Plano Real. O partido trocou de discurso em relação ao plano econômico e precisou também trocar de candidato a vice-presidente. Aloizio Mercadante substituiu José Paulo Bisol, senador do PSB gaúcho. Em agosto, Fernando Henrique Cardoso já ultrapassava Lula nas pesquisas. O tucano venceu no primeiro turno.

Surgiu na campanha de 1994 uma das comparações biográficas que mais enfureceram Lula. Em evento de que participava Ruth Cardoso, a empresária de teatro Ruth Escobar anunciou que os brasileiros teriam duas opções: “Votar em Sartre ou escolher um encanador”. No bunker petista em São Paulo, para aliviar o clima, falava-se em injustiça não só com os encanadores, mas com o escritor francês Jean Paul Sartre. Lula não riu. Nos comícios seguintes, lançaria torpedos que continuariam ecoando dez anos depois, já na Presidência da República:

“A elite sabe que sou um vencedor. Uma criança nordestina que não morreu de fome até os cinco anos já venceu na vida. Um nordestino que desembarcou de um pau-de-arara, fugindo da seca, e não virou marginal é um vencedor. No meu governo, um filho de encanador vai disputar vaga na universidade com o filho de uma empresária de teatro como a senhora Ruth Escobar.”

Em 1998, Lula voltou a se candidatar a presidente da República e foi derrotado novamente por Fernando Henrique Cardoso, que capitalizou o receio de mudança de boa parte do eleitorado, tendo estreado a novidade da reeleição que fora aprovada pelo Congresso no mesmo ano.

A partir de 1992, Lula atuou como conselheiro do Instituto Cidadania, organização não-governamental, criada após a experiência do Governo Paralelo, voltada para estudos, pesquisas, debates, publicações e principalmente formulação de propostas de políticas públicas nacionais, bem como promoção de campanhas de mobilização da sociedade civil rumo à conquista dos direitos de cidadania para todo o povo brasileiro.

Na última semana de junho de 2002, a Convenção Nacional do PT aprovou a formação de ampla aliança política (PT, PL, PC do B, PCB e PMN), que elaborou programa de governo para resgatar as dívidas sociais fundamentais que o Brasil tem com a grande maioria do seu povo. A abertura do leque de alianças para o PL, atraiu o voto dos empresários e dos evangélicos. Embalado por uma campanha eficiente na TV que explorava a imagem do “Lulinha paz e amor”, o petista manteve-se na dianteira nas pesquisas. O candidato a Vice-Presidente na chapa foi o senador José Alencar, do PL de Minas Gerais. Em 27 de outubro de 2002, aos 57 anos de idade, com quase 53 milhões de votos, Luiz Inácio Lula da Silva é eleito Presidente da República Federativa do Brasil vencendo José Serra (PSDB) no segundo turno por uma diferença superior a 19 milhões de votos.

Após a posse, o Presidente Lula e sua equipe de governo deram início a uma série de transformações estruturais que encaminharam o País para encontrar-se com seu promissor destino.

Apesar da reduzida instrução formal, ele foi distinguido com vários títulos de doutor “Honoris Causa” por renomadas universidades norte-americanas e européias.

Lula é casado desde 1974 com Marisa Letícia e tem cinco filhos.

OS DISCURSOS DE LULA

No primeiro discurso como presidente eleito, antes da posse, Lula privilegiou o tema do combate à fome. Três anos e meio depois, em 17 de maio de 2006, uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que eram precisas até as projeções de Lula, de dezenas de milhões de vítimas da falta de comida suficiente.

Em 2004, somando-se as pessoas com insegurança alimentar grave (as que passaram fome) e moderada (as que ficaram preocupadas em não ter alimentos), chegava-se a um contingente de 39,5 milhões de brasileiros. A história da mãe, Eurídice, e dos irmãos do presidente viajando do Nordeste para o litoral paulista, em 1952, abastecidos apenas com água, farinha e rapadura, é conhecida. Nas centenas de comícios e passeatas que fez em quatro campanhas presidenciais, em zonas urbanas e rurais, Lula era capaz de identificar crianças famintas sem necessidade de perguntas.

A história de vida do metalúrgico e sindicalista que se elegeu presidente o separa dos antecessores e possivelmente dos sucessores. Essa clivagem reflete-se nos discursos, em especial nos improvisados. Em 3 de abril deste ano, na troca de ministros em preparação à campanha eleitoral, o presidente falou sobre pescadores e estádios de futebol. Em 5 de maio, no auge da crise com a Bolívia, aproveitou a inauguração de uma linha turística de trem em Ouro Preto para revelar seus conhecimentos de cachaça mineira e citou as infidelidades conjugais de dom Pedro 1º. Na fala de Lula, esses temas ausentes nos discursos de José Sarney, Itamar Franco ou FHC surgem naturalmente, e estabelecem com a população laços que as denúncias e as ameaças de impeachment não conseguiram quebrar até agora.

Na campanha até outubro, o candidato vai reforçar sua biografia com realizações de governo como o crescimento das exportações e do crédito para a população de baixa renda, a queda no risco Brasil, a diminuição do desemprego e da miséria, o aumento real do salário mínimo, as bolsas para estudantes carentes em universidades privadas. Lula tem quatro campanhas presidenciais de experiência em debates e décadas de negociação dura com os oponentes. Para os fugitivos da seca, as adversidades sempre estiveram por todos os lados, no chão estéril e no céu sem nuvens.